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domingo, 8 de maio de 2011

1° fichamento - Gincana de genética

AUSÊNCIA DE EFEITO DE GÊNERO EM ESQUIZOFRENIA FAMILIAR
UM ESTUDO BRASILEIRO


Ficha de citações
Arq Neuropsiquiatr 2000;58(2-B): 494-498


“A busca pelas causas da esquizofrenia é empreitada científica que já completa um século1. As dificuldades encontradas pelos cientistas ao longo deste processo em estabelecer achados definitivos na área pode ser melhor explicada pela heterogeneidade do transtorno. O termo esquizofrenia, originalmente cunhado no plural2, representa provavelmente distintos transtornos neuropsiquiátricos que têm como traço comum o prejuízo das funções cognitivas, sensoperceptivas e afetivas das populações afetadas. Neste quadro de heterogeneidade surge a importância da realização de estudos que procurem detectar subtipos do transtorno com homogeneidade etiológica. Como a importância de fatores hereditários na esquizofrenia ficou confirmada ao longo de décadas de estudos3, uma das mais férteis estratégias de pesquisa é buscar determinar os subtipos de maior influência genética em sua etiologia.” (p.494)

“Os estudos de esquizofrênicos familiares  famílias em que dois membros, com primeiro grau de parentesco, tenham recebido o diagnóstico de esquizofrenia  vêm encontrando um dado interessante: a ausência do efeito de gênero na idade de início do transtorno. Os dados epidemiológicos gerais estabelecidos para idade de início de esquizofrenia4,5, reproduzidos em dez países diferentes6, indicam um início do transtorno mais precoce no sexo masculino. Em contraste com estes achados, alguns estudos recentes7,8 não reproduziram este achado no grupo de esquizofrênicos familiares. Visto que a idade de início da esquizofrenia pode ser influenciada geneticamente9, este achado pode constituir-se numa importante pista para a investigação das causas do transtorno.” (p.495)

“A amostra aqui estudada foi extraída de projeto de colaboração entre o Instituto de Psiquiatria de Londres e o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (financiado pela Comunidade Econômica Européia), intitulado 
"Genética das Psicoses", que teve como objetivo a coleta de famílias com dois ou mais afetados por esquizofrenia ou doença afetiva bipolar, visando a detecção de genes de maior efeito envolvidos nas duas formas de patologias psiquiátricas. A partir do contato com outros profissionais da área e hospitais psiquiátricos, pôde-se fazer um levantamento de famílias com as características acima, sobretudo nas cidades de São Paulo, Florianópolis e João Pessoa. Uma família foi colhida no interior da Bahia e outra no interior do Estado de São Paulo. Uma pessoa da família sempre era eleita como chave para o contato com algum membro de nossa equipe. Inicialmente esclareciam-se os objetivos da pesquisa e, com seu auxílio, realizava-se um primeiro levantamento do heredograma familiar. Nas famílias em que surgiam mais de um afetado, o membro-chave se comunicava com os demais componentes da família, apresentando a pesquisa e solicitando uma primeira autorização para participação.” (p.495)

“O instrumento diagnóstico utilizado foi o Roteiro Para Distúrbios Afetivos e Esquizofrenia  Versão Para a Vida Toda (SADS-L); sempre que necessário houve complementação de dados a partir de relatos familiares ou prontuários hospitalares. O SADS-L é um instrumento diagnóstico que utiliza critérios do "Research Diagnostic Criteria" (RDC)10, categorizando assim os diagnósticos: esquizofrenia, transtorno esquizoafetivo-maníaco; transtorno esquizoafetivo-depressivo; transtorno esquizoafetivo-bipolar; doença afetiva bipolar; mania e depressão maior.” (p.495)
“Quarenta e seis famílias preencheram, inicialmente, o critério de dois ou mais membros com diagnóstico RDC de esquizofrenia ou doença afetiva bipolar, sendo 28 bipolares e 18 esquizofrênicos (considerado o indivíduo-índice).” (p.495)

“A reprodução do mesmo resultado em uma população que, em média, apresenta nível de escolaridade menor e sistema de saúde menos eficiente, indica que a ausência de efeito de gênero em esquizofrênicos familiares é achado consistente, com relativa independência de fatores ambientais. No mesmo sentido, o fato das famílias estudadas serem provenientes de três regiões díspares do país (São Paulo, João Pessoa e Florianópolis) reduz a probabilidade de que os resultados sejam devidos a fatores de influência regional. Em outras palavras, reforça a hipótese de um mecanismo genético latente para sua explicação, possivelmente atuando através de genes envolvidos no neurodesenvolvimento, que seriam responsáveis pelo surgimento do transtorno no subgrupo familiar." (p.497)

“Duas hipóteses vêm sendo aventadas correlacionando genes de neurodesenvolvimento e esquizofrenia. Guildry & Kent18 propõem a herança de uma mutação em um alelo recessivo de um gene crucial para o neurodesenvolvimento. Uma ocasional mutação somática no alelo normal provocaria, se ocorrida em períodos críticos do neurodesenvolvimento, anormalidades desenvolvimentais responsáveis pela esquizofrenia. A outra hipótese19 sugere que genes agindo no neurodesenvolvimento pré-natal sejam responsáveis por um retardo do desenvolvimento cerebral intra-uterino que, finalmente, levariam à gênese da esquizofrenia anos mais tarde. Visto que genes associados ao neurodesenvolvimento, como Pax-6 e Gli-3, começam a ser investigados em suas correlações com a esquizofrenia como um todo20 ou com alguns subtipos do transtorno21, estas hipóteses devem merecer atenção nos próximos anos.” (p.497)

“Considerando que a ação de estrógenos como efeito protetor é uma das explicações para o início mais tardio da esquizofrenia em geral no gênero feminino22, o envolvimento dos genes de neurodesenvolvimento com a ação estrogênica é outro terreno que deve ser percorrido por novos estudos.” (p.497)

“Entretanto, a reunião de todos os estudos acima apresentados, aliada aos nossos dados, revela a ausência do efeito de gênero na esquizofrenia familiar como importante pista para a investigação das causas genéticas do transtorno, sinalizando para a necessidade da realização de estudos moleculares específicos neste grupo. Genes implicados no neurodesenvolvimento, assim como o mecanismo pelo qual tais genes promovem sua ação, são candidatos a estudos vindouros que possam melhor esclarecer as causas da esquizofrenia.” (p.498)


2 comentários:

  1. Meirynha, parabéns pela postagem e fichamento. Um tema interessante o da genética dos problemas mentais.
    .
    Agora duas observações:
    1. Quem são os autores? Faltou colocar a referência bibliográfica no modelo da ABNT.
    e
    2. Um fichamento de resumo seria muito mais útil para você, na hora de confeccionar posteriormente um texto (artigo), como o pedido na tarefa 04 da gincana.
    .
    Sucesso!

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  2. Obrigada!
    E pode deixar, farei o fichamento de resumo.
    =)

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